Confronto de Ideias
"Estamos todos de acordo quanto aos problemas:
- Somos CONTRA O ABORTO
- Somos A FAVOR DA AJUDA ÀS MULHERES
- Reconhecemos a existência de um PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
- Reconhecemos a existência de um PROBLEMA DE CLANDESTINIDADE.
Mas divergimos na terapia…
O Sim:
- A sociedade falhou! Não conseguimos tomar medidas de prevenção e de apoio às mulheres para que o número de abortos diminua! Então sejamos pragmáticos porque o problema urge. A solução é deixá-las abortar mas em condições de segurança e de apoio à sua saúde. E não as devemos responsabilizar visto serem vítimas.
O Não:
- A sociedade falhou até hoje! Temos de fazer com que não continue a falhar porque não nos conformamos com a ideia de que somos incapazes de ajudar as mulheres, seja com medidas de prevenção, seja com ajudas ao acolhimento dos seus filhos. As mulheres são vítimas duma situação criada por elas mas mais vítimas serão os seus filhos mortos.
O Sim:
- Filhos?! Não sei… será que podemos considerá-los como tal? Bom, de qualquer forma o que pensamos sobre isso é irrelevante. O importante é o foco nas mulheres e a resolução dos seus problemas.
O Não:
- Irrelevante? Mas então como podemos avaliar se devemos penalizar ou não se não sabemos o que está em causa? Deixemo-nos de tretas, bem sabemos que é uma vida humana pois que outra coisa poderia ser?!
O Sim:
- Lá fora, na Europa, a maioria dos países despenalizou o aborto. Só nós é que continuamos nesta situação…
O Não:
- O que outros países fizeram é lá com eles. Temos de pensar pela nossa cabeça ou não seremos capazes disso? Claro que devemos estudar o que se passou noutros sítios, perceber o que funcionou e se poderia ser aplicado cá, pois não temos de reinventar a roda, mas a nossa solução terá de ser encontrada por nós e não necessariamente decalcada da de outros países. Isto é válido em qualquer domínio da vida.
O Sim:
- Mas eles são mais evoluídos que nós. Estamos a falar da Dinamarca, Suécia, França, Alemanha e por aí fora… É indiscutível a sua superioridade económica, social, cultural, civilizacional…
O Não:
- Pois… também os Estados Unidos da América são só uma das maiores democracias, a nação mais poderosa do mundo e a mais evoluída tecnológica e economicamente e no entanto admite a pena de morte, coisa de que nos orgulhamos ter sido dos primeiros a abolir. E isso de superioridade civilizacional é sempre discutível e relativo. Lá pelos países nórdicos parece que a taxa de suicídio é qualquer coisa de alarmante.
O Sim:
- Seja como for, pensemos nas mulheres e no seu drama, porque é de um verdadeiro drama que se trata. As mulheres vivem-no sem qualquer apoio e para o resolverem ainda tem de correr risco de vida abortando sem condições.
O Não:
- É realmente um drama!… Mas antes do aborto, trata-se de um drama possível de ser resolvido, ou pelo menos atenuado, desde que a sociedade e a mulher se disponham a isso, já depois do aborto, e por mais que a sociedade ou a mulher tentem, não há nada que resolva o drama que tantas vezes se prolonga pela vida fora… a ideia de que se deu cabo duma vida não deve ser pêra doce…
O Sim:
- Tudo bem, mas continuamos a achar que não faz sentido penalizar as mulheres pois não ganhamos nada com isso e só as enxovalhamos. É uma vergonha por que tem de passar. Já não basta o drama que estão a viver e ainda por cima temos de as perseguir?!
O Não:
- De facto precisam mais de ajuda do que de perseguição… Mas e aquelas que o fizeram por puro capricho e comodismo? As que tinham condições económicas, sociais, familiares, etc, mas que mataram o seu filho porque não lhes dava jeito, não fazia parte do seu projecto de vida, atrapalhava-lhes o futuro? Não deverão ser responsabilizadas?
O Sim:
- Ora! E as que não tem condições mínimas? É dessas que estamos a falar!
O Não:
- Pois… e quem avalia isso? Quem deverá avaliar cada situação a fundo para se saber se estamos na presença de alguém que agiu por simples capricho ou de alguém que não via outra saída tal era difícil a sua situação? Quem deverá ponderar os prós e contras? Quem tem a função de analisar até onde vai, ou não, a irresponsabilidade da mulher em questão? Parece-me que numa sociedade minimamente evoluída este é um assunto para os Tribunais resolverem, pois é a eles que cabe analisar todas as circunstâncias atenuantes. Normalmente recorrendo à opinião de especialistas em psicologia, sociologia, etc, etc.
O Sim:
- Não me falem em Tribunais! Todos sabemos a eficácia que tem, o tempo que demoram a decidir, a exposição pública em que colocam os arguidos que mais tarde até podem vir a ser dados como inocentes!
O Não:
- Claro, por essas e outras razões é que temos de os melhorar. É esse o nosso papel enquanto sociedade. Ou então mais vale não termos Tribunais, se não servem para nada.
O Sim:
- Só que entretanto o problema está aí e mexer no sistema judicial leva muito tempo! Não podemos esperar tanto tempo assim… À que despenalizar e capacitar o Sistema Nacional de Saúde, apetrechá-lo com recursos materiais e humanos, organizá-lo, pô-lo a funcionar eficazmente. É para isso que servem os nossos impostos, ou não?
O Não:
- É, servem para isso e muito mais… Mas se não acreditamos ser capazes de pôr a Justiça melhor como vamos acreditar conseguir pôr o Sistema Nacional de Saúde em condições? Em tempo útil, claro…
O Sim:
- Isso é um problema que cabe ao Governo tratar. Nós temos de lhes dar essa autorização votando SIM no referendo.
O Não:
- Prefiro votar NÃO, dando assim autorização ao Governo para investir os nossos impostos na prevenção das causas que levam ao aborto, no apoio às mulheres e acolhimento aos seus filhos, no sistema de adopção, na melhoria do sistema judicial, e não na matança livre dos membros da sociedade que lhes cabe defender.
O Sim:
- Tudo isso é muito bonito mas era mais rápida a nossa solução. Até porque as fracas condições no Sistema Nacional de Saúde são sempre melhores do que condições nenhumas na clandestinidade. E sempre poderíamos, numa fase inicial enquanto fornecemos condições ao nosso Sistema de Saúde, recorrer a convenções com Espanha, pois eles estão já aqui ao pé e mais habituados a tratar destas questões.
O Não:
- Já reparaste que de repente estamos a discutir qual a forma mais eficaz de matar seres humanos em condições de segurança? Já não se pensa no que se mata mas na melhor forma de o fazer. Na forma mais «digna» de tratar do assunto! Isto vai nos levar onde? Qual é o papel da sociedade, ou seja, de todos nós? Não será o de proteger os seus membros? Ainda por cima estamos cada vez mais velhos dada a baixa taxa de natalidade. Se não apostamos no seu rejuvenescimento estamos a provocar o seu suicídio. Não deveríamos apoiar a todo o custo o aparecimento de novos membros, o desenvolvimento de famílias, o acolhimento aos inocentes que também tem direito à vida como nós? Que direitos são superiores ao direito à vida? Sem o direito à vida nenhum outro direito existe. Sem o direito à vida, porventura nenhum de nós viveria e se poderia arrogar do direito à liberdade de escolha, à saúde, educação, habitação e tantos outros «luxos».
O Sim:
- …"
2 Comentários:
Ser feminista e femina não são, necessariamente, duas categorias incompatíveis.
Não fiz qualquer referência ao feminismo, a não ser no nome do blog de onde retirei este comentário. Concordo plenamente contigo, Madalena. Não são, de todo, incompatíveis...
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