14 janeiro 2007

Razões do «Sim» e Razões do «Não»

"Convenhamos que há muitas razões do lado do «Sim» e do lado do «Não», e que nenhuma das duas soluções é obviamente perfeita.

Más razões ou não-razões para o «Sim», há muitas. Boas razões há 2:

1 - Haverá sempre abortos provocados, por isso que se dêm boas condições para a sua realização.


2 - Existem gravidezes indesejadas que, se forem levadas até ao fim, para além de causarem fortes transtornos sociais, profisisionais ou económicos às mães, podem não permitir que a criança se desenvolva em boas condições sociais e económicas.

Para o «Não», também há muitas más razões e não-razões. Mas boas razões, encontrei 32:
1 - Porque não se pode restringir a propriedade de um embrião a quem o gera, ele é sobretudo dele próprio, do País e do mundo também

2 - Porque não é bonito resolvermos as dificuldades matando algo ou alguém

3 - Porque não existe magia maior do que um ser humano em gestação

4 - Porque não se pode negar a um ser tão vulnerável a única protecção que o País lhe pode actualmente dar

5 - Porque não temos outro remédio na vida, senão assumirmos os contratempos e arcarmos com os nossos erros, sobretudo quando estão em causa altos valores

6 - Porque não é razoável que o Estado financie abortos em vez de trabalhar em políticas sociais que melhor apoiem quem mais precise para fazer crescer uma criança

7 - Porque não é correcto que o Estado se demita de ajudar um bebé não nascido até à sua idade adulta, quando o faz com um bebé vivo abandonado num local público

8 - Porque não é legítimo considerar que a vida pode ser destruída, por qualquer razão, com 10 semanas, e não se já tiver 11, 12 ou 15

9 - Porque não é definitivamente a mesma coisa o uso de métodos contraceptivos, para evitar o aparecimento de uma vida, ou acabar com ela

10 - Porque não está proibido, na actual lei, que se realize o aborto provocado quando está em causa a saúde da mãe, uma má-formação do embrião ou uma gravidez por violação

11 - Porque não é a actual lei do aborto um verdadeiramente um problema nacional, mas sim o nível de vida de muitos portugueses

12 - Porque não existe nenhum estudo que aponte claramente que percentagem de casos têm condições sócio-económicas realmente impróprias e quantas são as intenções de aborto por simples constrangimento sociais ou de progressão profissional

13 - Porque não se iria permitir, pela lei proposta, o direito do pai se responsabilizar pela criança após nascer

14 - Porque não está sequer consagrada, nessa nova lei, a possibilidade de a criança ser acolhida por uma igreja, uma outra família ou uma instituição social pública ou privada

15 - Porque não nos faz falta nenhum tipo de incentivo à redução natalidade num País a envelhecer

16 - Porque não está ainda tudo feito em matéria de informação preventiva, planeamento familiar, educação sexual no ensino e cultura de solidariedade na sociedade

17 - Porque não há actualmente nenhuma portuguesa que não possa tomar a pílula abortiva, do «dia seguinte»

18 - Porque não existe ninguém que possa garantir que a mudança da lei não resulte num brutal aumento dos abortos em Portugal, à semelhança do sucedido noutros países ou pior ainda

19 - Porque não fica o País fica mais moderno e próspero por ter uma lei do aborto mais liberal e europeia

20 - Porque não faltam lugares no mundo em que vigora a liberalização e onde já se discute se a lei deve voltar a proibir o aborto forçado, como em Inglaterra ou na Alemanha, ou até já se referenda o regresso à lei antiga, como em certos estados americanos

21 - Porque não faz nenhum sentido repetir o mesmo referendo passados 8 anos, só porque o «Não» ganhou por poucos votos e o País estar numa «maré de esquerda»

22 - Porque não é o julgamento de mulheres a questão central do referendo, bastando o Parlamento pretender descriminalizar as abortadoras, para resolver esse detalhe

23 - Porque não há uma única mulher condenada por aborto, muito poucas foram julgadas e as que foram tinham gravidezes bem mais evoluídas do que 10 semanas

24 - Porque não é mais falacioso pensar que se pode ir abortar a Espanha do que decidir mudar a lei só porque haverá sempre quem a viole

25 - Porque não há garantia para ninguém de que o trauma causado por um aborto não seja maior do que ajudar a dar um destino de vida a uma criança que não era desejada à partida

26 - Porque não sabemos nunca se o português que estamos a permitir matar não poderá ser amanhã um compatriota de quem todos nos possamos orgulhar, útil ao País ou que simplemente faça a felicidade de outros e a dele próprio

27 - Porque não conseguimos nunca analisar as coisas tão claramente «a quente» e haverá sempre um sério risco de simplesmente nos arrependermos de algo que não podemos corrigir

28 - Porque não há muitos sacrifícios feitos por fortes causas que a vida que não nos retribua de algum modo

29 - Porque não devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem a nós (catolicismo à parte)

30 - Porque não é sério perguntar aos portugueses «concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez…?» quando está efectivamente em causa «concorda com o fim de uma gravidez por qualquer motivo…?»

31- Porque não é correcto que o Estado induza na sociedade uma «cultura laxista» ou uma «cultura de morte», sobretudo quando tem consciência de que não pode accionar outras vias eficazes de as minimizar, demitindo-se de fazer mais para proteger um cidadão em potencial, só porque entende que essa sua protecção pode ser desrespeitada por alguns e por haver dificuldades em puni-los

32- Porque não há dúvida de que, na dúvida, se devem deixar as coisas estar como estão"

Este conjunto de razões, de André Rocha Pinho, foi descoberto no blog Farol do Deserto. Não podemos dizer que concordamos com todas, mas revemo-nos na grande maioria.

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