"Resposta de Uma Mulher ao Sr. Ministro da Saúde"
"1. Segundo parece, na badalada Conferência Internacional sobre a Saúde Sexual e Reprodutiva da Mulher, o Dr. Correia de Campos fez um apelo às mulheres e aos médicos para que promovam o sim à «despenalização» do aborto.
No que respeita aos médicos, a quem o senhor ministro pede que abjurem de um código deontológico milenar de serviço à vida humana, haverá com certeza alguém que lhe responda.
No que toca ao primeiro apelo referido, gostaria - enquanto mulher - de fazer umas observações. De facto, na mesma ocasião, o dr. Albino Aroso terá dito que «nenhum homem sabe o que é levar até ao fim uma gravidez não desejada». Presumo, portanto, que ele próprio também não sabe, nem desejada, nem indesejada. Tão pouco o sabem o senhor dr. Sócrates ou o senhor ministro da Saúde.
2. Não julgo que valha a pena insistir na vacuidade, contradições (e, já agora, demagogia) dos dois «argumentos» apresentados por José Sócrates. Basta pensar que a proposta do PS «persegue» e «envia para a prisão» as mulheres que abortam às 11 semanas de gravidez, às quais não evitaria o aborto clandestino (o qual, aliás, como já reconheceram alguns defensores da liberalização, não acabará, por razões várias). Mas esta incoerência chama a atenção para o verdadeiro «clandestino» dessa argumentação - o não nascido - e para o que estará em causa no próximo referendo: saber se essa vida humana deve ser protegida pela lei, ou se, pelo contrário, deve ficar à mercê do interesse arbitrário de outrem, como se fosse uma «coisa» para usar ou deitar fora, sem valor intrínseco, a custas do Estado.
Todavia, para contrariar este efeito, - como já foi explicado, e por muito que isso irrite ao dr. Sócrates - não é necessário «perseguir as mulheres». No nosso sistema jurídico já estão previstos mecanismos que conciliam a função do direito penal de tutela de bens jurídicos fundamentais (como é, antes de qualquer outro, o da vida humana) com a consideração de circunstâncias atenuantes da culpabilidade, associadas a condições dramáticas e desesperadas de existência.
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