28 outubro 2006

Feminismo e Defesa da Vida

Descobri este comentário interessantíssimo, feito por Tânia Rocha, no blog Razões do Não. Pessoalmente, acho que é uma excelente explicação de como é possível conjugar a defesa dos direitos das mulheres, e a defesa da vida (num não ao aborto). Sinceramente, é "a" resposta que eu nunca consegui dar...

"Vanda, permite que te diga que sou mulher, e que se calhar poderia colaborar aqui. Seria questão de me propor, e seria questão de a minha vida, nestas últimas semanas a 200 à hora, me dar um espacinho entre prazos de coisas que estão por terminar.


Permite também que te diga que sou cristã, mas apenas desde há uns anos. E que te diga que era já adulta quando me converti, portanto sei qual era a minha opinião neste assunto antes de ser cristã. Era, já nessa altura, contra a descriminalização do aborto. Porquê, perguntar-me-ás tu? Será que acho que os homens mandam nas minhas entranhas? Não, claro que não. Nas entranhas de uma mulher entrará o sémen do homem a quem ela o permitir. Caso contrário, é violação, logo crime.

Então que argumento me convenceu nessa altura, antes de eu passar a ter fé? (não certezazinhas... pelo menos não no meu caso. No meu caso há dúvidas, e acredito apesar das dúvidas, como quem ama apesar de nunca saber se é apenas ilusão. Dá-se um passo no escuro e ama-se). Mas não posso perder o fio da meada. Nessa altura, além da certeza de que o embrião tem estatuto humano, logo merece ser protegido por lei, convenceu-me o argumento das Feministas pró-vida americanas (www.feministsforlife.org): as mulheres merecem melhor (sabias que as primeiras feministas eram contra o aborto, e lhe chamavam instrumento de opressão patriarcal?). As mulheres merecem melhor do que ficarem grávidas e abortarem a seguir. As mulheres merecem melhor do que ser-lhes posto nas mãos o peso de escolher, ainda sob o choque de se saberem grávidas, sob o choque emocional e mesmo hormonal (ou negarás que as hormonas nos mudam o estado de espírito e a maneira de ver as coisas?), se querem dar a vida ou tirá-la. As mulheres merecem melhor do que, se tiverem o filho em condições adversas, ficar subentendido «Tiveste o filho porque quiseste, podias tê-lo abortado, agora aguenta». As mulheres merecem melhor do que irem falar com familiares a pedir conselho numa situação complicada, dizendo «Não sei se sou capaz de ter o filho» e em vez de a ajudarem a sê-lo dizerem-lhe: «OK, então aborta». Ou dir-lhes-iam, caso elas duvidassem se eram capazes de continuar vivas: «OK, então suicida-te»?

Eu nunca abortei, mas isso não significa que não conheça quem o tenha feito, e que não tenha visto o resultado nessas mulheres. Isso não significa que não saiba que muitas vezes as mulheres não escolhem essa opção por quererem, embora não optem obrigadas (por coacção). Optam porque «no fundo, até queriam ter o filho, mas não vai dar».

Achas que sou contra o aborto por ser contra as mulheres? Não. Sou-o porque as mulheres não merecem ser mutiladas na alma por serem elas as que a biologia tornou capazes de trazerem um filho no ventre. O aborto, esse sim, é muitas vezes (e não me fales dos casos extremos, esses já estão na lei) um instrumento de opressão das mulheres, que nessa área continuam a ser exploradas, por vezes sem se aperceberem. Ou achas que se fossem os poderosos homens, os governantes, a ficarem grávidos e a parir que se iam sujeitar a uma intervenção que, como dizes tu mesma e de acordo com os testemunhos que conheço de mulheres que abortaram, deixa a pessoa que abortou «doente física e espiritualmente»? Por que hão-de ser as mulheres a carregarem sozinhas o peso da gravidez? Porque é na barriga delas que está o embrião? E não apareceu feito por ambos? Mais, não nos cabe a todos proteger a mulher grávida e ajudá-la? Porque temos de condenar essas mulheres a um luto desnecessário?

É sempre a mesma história. Somos nós que temos de pagar o pior preço. Somos nós que, iludidas, pedimos o direito a sermos mutiladas por dentro? Convencem-nos que, em vez do direito a não sermos discriminadas por parirmos (ou porque julgas que preferem um homem a uma mulher na entrevista de emprego? Não é por sermos fortes ou fraquinhas, é porque se ficarmos grávidas lá vão eles pagar um empregado que não está lá), devemos pedir o direito a exercer violência sobre as nossas entranhas e sobre nós mesmas? Que motivos levam as mulheres a abortar? Pior, que motivos levam mulheres que queriam o filho a abortar? Não nos estamos a esquecer delas?

Já escrevi imenso, e não falei de Deus, nem falei do direito à vida dos embriões..."

2 Comentários:

At 28 outubro, 2006 23:04, Anonymous Anónimo said...

Quem fala assim, não é gag@...!

 
At 28 fevereiro, 2007 23:45, Blogger T. said...

Assim fico corada!...

 

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